Quando Jerônimo Rodrigues disse o que disse, não falava do alto de uma torre de marfim. Falava da beira do abismo onde milhões foram empurrados por uma política que desprezou vidas. O bolsonarismo não foi apenas uma eleição — foi um projeto de morte simbólica, de destruição de laços, de abandono calculado. E foi esse projeto que o governador baiano quis enterrar. Não com armas, mas com palavras.
Mas a elite tem horror a palavras sinceras. Prefere o discurso da moderação que não toca em nada. A fala de Jerônimo foi como uma pá de cal no silêncio: pesada, incômoda, definitiva. Porque simbolizou o fim da era do cinismo e o início de um tempo em que se fala o que se sente. E o povo sente. Sente que foi usado, machucado, traído.
Jerônimo Rodrigues é a voz de quem sobrou. De quem resistiu sem aplauso, sem microfone, sem cobertura de jornal. E agora, quando esse povo enfim tem um representante que não tem medo de dizer o óbvio, querem cassar o direito à metáfora. Querem proibir a dor de virar palavra.
Mas quem já viu a fome não se cala. E Jerônimo viu. Viu, viveu, sentiu. E por isso, sua fala é legítima. É a fala de quem não pede desculpa por ser verdadeiro.
